RECOMEÇANDO: Gabriel Metzler de Oliveira muda de vida, sem perder o foco

Nova consequência do acidente de 1998 afeta a visão do palestrante e engenheiro. Determinação, porém, não altera suas ambições e projetos

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Atualizado há 8 anos

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Tragédia do passado se transformou em lição de vida, para Gabriel e muita gente. (Foto: Francielle Misturini).

A história do jovem Gabriel Metzler de Oliveira se divide em antes e depois do acidente. De 1998 para cá, o palestrante e engenheiro enfrentou mudanças na forma de encarar a vida. Chorou muito, aprendeu, ensinou. Mas, as consequências daquele inesquecível 13 de junho ainda o acompanham. Primeiro, a saudade de um amigo que não volta mais. Gabriel sobreviveu, mas Tiago Ravanello, na época um adolescente, não. Depois, um corpo com ferimentos e uma visão limitada e comprometida. De novo, o efeito do estouro de uma bomba caseira trouxe novidades. No ano passado, Gabriel esbarra na cegueira e, por conta dela, precisa mudar sua vida novamente.

Recentemente ele relembrou sua história na imprensa local. Falou à Super Rádio União. Em sua página, na rede social, deixou um depoimento, cheio de otimismo e esperança. “Mudança” foi a palavra chave para a redação de um texto emocionante, marcado pela decisão de se cuidar e seguir em frente. “Talvez você esteja se perguntando se isso é temporário? Definitivo? Gostaria muito de ter essa resposta. Hoje, com as consultas, exames, procedimentos e cirurgias que fiz, é muito provável que no curto ou médio prazo, ela permaneça como está”, postou.

Por conta dessa surpresa, Gabriel deixou a cidade do Rio de Janeiro, onde morava e trabalhava, para abraçar um tratamento de adaptação no Instituto Paranaense de Cegos, referência para deficientes visuais, em Curitiba. “Algumas mudanças são difíceis. Independem da nossa vontade. O que cabe a nós é facilitar essa situação. Fiz o melhor que pude, fui nos melhores médicos, segui todas as orientações que me foram dadas e assim continuarei fazendo. Agora é hora de encarar essa nova fase da vida. Talvez ela seja temporária, talvez não”, escreveu.

Em seu texto, Gabriel compara sua mudança com o perfil de algumas empresas que, como ele, aceitam o desafio de se redescobrir. Para ele, quem se adapta, vai mais longe. “Aquelas que se adaptarem e conseguirem aproveitar as oportunidades que surgirem, estarão à frente daquelas que apenas se lamentam e focam nos riscos e procuram o lado negativo”, encerra.

E como o mundo dá voltas e surpreende, Gabriel vai poder ficar pertinho do seu filho, que mora com a mãe na capital do Estado. Sem perder o foco, o engenheiro segue em frente, sabendo onde pisa.

Visão limitada

Em 2013, Gabriel enxergava cerca de 40% do que enxerga uma pessoa com visão normal em apenas uma vista, já que a outra foi perdida no acidente. Ao longo de quase 18 anos, ele já enfrentou 10 grandes cirurgias: seis no olho e outras nos ouvidos (ele teve rompimento dos tímpanos por conta da explosão).

À jornalista Ana Cristina Bostelmann, o médico oftalmologista Alysson Cesar Kampmann detalhou mais. Conforme ele, existem dois tipos de bombas: com explosivos e de cal. No caso de Tiago e Gabriel, foram os explosivos que causaram danos nos olhos. “Os explosivos causam um trauma mecânico no olho, os estilhaços do explosivo vão para o olho e podem causar a perda do globo ocular ou perda severa da visão”, explica.

Grupo Alerta Vida (GAV)

Depois de muito sofrimento, os pais de Gabriel, Roberto Domit de Oliveira e Maria Luíza Metzler, não se admiraram com a solução que Gabriel encontrou para tentar melhorar um pouco o mundo, que, agora, ele valoriza muito mais. O menino, aos 15 anos, contando com o apoio de seus pais, de sua irmã, Marília Metzler de Oliveira, e vários amigos, queria de alguma forma mostrar aos jovens o perigo do uso inadequado dos explosivos. Assim, fundou, em fevereiro de 1999, o Grupo Alerta Vida (GAV), que faz orientações por meio de palestras, fotos e vídeos, divulgação em escolas e materiais informativos sobre os perigos dessas brincadeiras. Nesses 17 anos, eles percorreram muitas cidades e estados. Além disso, o Grupo ganhou vários prêmios pelo trabalho de prevenção realizado nas comunidades. O maior deles foi o prêmio Sonhadores do Milênio, da Unesco, que reuniu, em 2000, nos Estados Unidos, representantes de diversos países que se destacaram em trabalhos voluntários.

GabrielX1Uma brincadeira, uma bomba

Em junho de 2013 a jornalista Ana Cristina Bostelmann relembrou a tragédia que abalou o Vale do Iguaçu na década de 90. Embora já tenha 18 anos, o incidente parece ter acontecido ontem.

GAV em atividade

No ano passado, Gabriel ficou totalmente cego. Por isso, precisou deixar o emprego. Mas, o GAV continua em funcionamento. Quem quer sua palestra, basta solicitá-la, a partir de sua página na rede social. Ele conversa com jovens e empresas dando palestras. Se alguma escola, professor ou turma tiver interesse de ouvir as histórias de Marília e Gabriel e receber gratuitamente a palestra de conscientização sobre os explosivos, basta entrar em contato com os irmãos pela rede social.

Palestras corporativas

Gabriel iniciou no ano passado, pouco antes de perder a visão, um novo trabalho. Ele desempenha também o papel de palestrante. São palestras corporativas, cuja temática é a Superação e Motivação, baseadas na sua própria história de vida. Através dela e de outros exemplos, ele emociona a plateia e mostra como é possível virar o jogo. Afinal, já são 17 anos assim.

“Meu objetivo é instigar a plateia à refletir acerca das suas dificuldades e como utilizá-las para impulsionar seu crescimento pessoal e profissional”, explica. “As empresas também enfrentam dificuldades e certamente aquelas que superarem e as utilizarem a seu favor terão grande vantagem competitiva, como produtividade e lucros, além de um clima organizacional melhor. Com funcionários mais preparados para encarar desafios, a empresa só tem a ganhar”, completa.

O site www.gabrielmetzler.com traz informações sobre a palestra e os seus dados para contato.